A letra da música “Melô do marinheiro” dos “Paralamas do Sucesso” que fez muito sucesso nos anos 80 e 90 aqui no Brasil é um convite a reflexão para os marinheiros de primeira viagem no Linux. “...Quem te ensinou a nadar? Foi o tombo do navio, ou o balanço do mar?…”
Minha idéia com este artigo não é criar um tutorial ensinando conceitos básicos de Linux – visto que há muitos por ai – mas apenas trazer estes aspirantes à marinheiros a reflexão e a persistência no estudo deste sistema mesmo diante das dificuldades, mostrando por onde começar a obter ajuda.
Não só aqui no blog, mas no meu e-mail, as vezes por MSN e outros comunicadores que uso, telefone e até nas ruas, sempre vejo e ouço pessoas lastimando-se que já tentaram usar Linux mas é complicado demais e que preferiram desistir, voltar ao Windows e tornaram-se críticos ferrenhos daquilo que não tiveram coragem de conhecer.
O que eu geralmente argumento com estas pessoas é que quando elas deixaram de usar o Windows 3.11 para o Windows 95, tiveram a mesma dificuldade; depois a dificuldade se repetiu do Windows 98 para o Windows XP; novamente para o Windows Vista e agora estou apostando com quem quiser:
Haverá um clima de “deja vu” com a chegada do Windows 7, que ainda não tem nome oficial, onde as mesmas dificuldades vão aparecer.
Vai ser a mesmíssima coisa: Uns vão achar lindo, outros horrível; uns poucos comprarão logo que sair nas lojas, outros logo que puderem comprarão no camelô da esquina aquele CD do “Windows PE” (Pirated Edition) e outros ainda resistirão até onde não puderem mais para migrar.
Do meu ponto de vista a dificuldade está na cabeça de cada um que resiste as mudanças. O caso é que como não existia outro caminho, as pessoas eram obrigadas e se conformar e readaptar suas rotinas de uma versão do Windows para a outra, mas com o Linux, é muito mais confortável falar que ele é difícil e voltar para aquela versão do Windows meia-boca que estavam acostumados do que insistir “em um sistema totalmente diferente”.
Lembro que quando era freelancer eu passei anos prestando suporte ao Windows 95 para um advogado que achava o Windows 98 muito complicado e depois o Windows XP pior ainda. Isso ocorreu até que o IBM Aptiva que ele usava para redigir seus documentos (processador 486, 16MB de RAM e 4GB de HD) não aguentou mais e ele foi obrigado a comprar um novo computador, quando forçosamente teve que se adaptar ao novo sistema.
Casos como este são mais comuns do que parece. Lá no trabalho mesmo, nós ainda temos Pentium 233MHz rodando o Windows 95, por puro medo do usuário trocar de sistema.
Um usuário normal prefere perder milhões de recursos novos à aprender a nova tecnologia.
O que nos ensina a música
Em dada estrofe a música diz:
” Aceitei, me engajei
Fui conhecer a embarcação
A popa e o convés
A proa e o timão
Tudo bem bonito
Prá chamar a atenção
Foi quando eu percebi
Um balde d’água e sabão
Tá vendo essa sujeira
Bem debaixo dos seus pés?
Pois deixa de moleza
E vai lavando esse convés…”
É mais ou menos isso que ocorre com os marinheiros de primeira viagem no Linux, eles começam a conhecer a embarcação (se empolgam, pegam um CD instalam, ou mesmo iniciam como LiveCD e começam a olhar, gostam do papel de parede, tema ícones etc) é tudo bonito bem bonito só pra chamar a atenção, mas quando se dão conta, está lá o balde d’água com sabão (instalação de scanner, impressora, modem …) e muitas vezes pelo meio mais sujo possível para quem quer simplicidade: O console! O jeito é … deixar de moleza e começar a lavar o convés.
Algumas vezes o pobre aspirante até começa a limpeza mas sempre se lastimando:
“… Entrei de gaiato num navio
Oh!
Entrei, entrei
Entrei pelo cano
Entrei de gaiato num navio
Oh!
Entrei, entrei
Entrei por engano…”
Quando isso ocorre e o camarada não é “safo” ele se joga do barco e volta ao Windows (com um boot – eu disse “boot” não “bote” 😉 ), mas sentando o pau no pobre barco do Linux. Por outro lado, muitas vezes ele está realmente interessado em aprender e em meio a lamentação a viagem continua:
” Quando eu dei por mim
Eu já estava em alto-mar
Sem a menor chance
Nem maneira de voltar
Pensei que era moleza
Mas foi pura ilusão
Conhecer o mundo inteiro
Sem gastar nenhum tostão…”
Pode ser que ele só se dê conta quando já está em alto mar (removeu a partição Windows, não fez backups dos dados, nem dos drivers para Windows etc). ou seja, ele está sem a menor chance, nem maneira de voltar!
É malandro … pensou que era moleza?! Conhecer o mundo inteiro sem gastar nenhum tostão é possível, mas não se iluda, não é moleza para quem está começando. 😉
” Liverpool, Baltimore
Bangkok e Japão
E eu aqui descascando
Batata no porão
Liverpool, Baltimore
Bangkok e Japão
E eu aqui descascando
Batata…”
Pior que isso é saber que seus amigos já estão em Liverpool, Baltimore, Bangkok e Japão (navegam na Internet, imprimem e scanneam sem problemas) e enquanto isso você esta ai “descascando batatas no porão” (sem saber nem por onde começar a digitar “make && make install”).
É … não dá pra criticar. Mas fica uma pergunta:
” Oh! Marinheiro, Marinheiro
Foi quem te ensinou a nadar
Ou foi o tombo do navio
Ou foi o balanço do mar…”
O tombo do navio, pode ter sido o susto com o preço de uma nova licença (para quem gosta de comprar tudo legalizado – parabéns por isso), já o balanço do mar talvez seja aquele seu amigo pentelho que já manja um pouco de informática, arriscou usar o Linux por um tempo e ficou forçando a barra, mas quando você enganjou de verdade ele pulou do barco e te deixou sozinho em alto mar.
E agora o que fazer?
Chega de música e vamos ao que todos querem, certo?! De duas uma: Ou você faz o mesmo que o seu amigo fez: Pula do barco (mas dependendo da distância que você esteja da praia, vai precisar ajuda para voltar);
Ou você vai até o final e como muitos que persistiram verá que não é tão difícil assim. Todo marujo de primeira viagem sabe que no começo as coisas são complicadas. São exercícios físicos, testes de sobrevivência, aquele “rango” horrível do quartel etc. Mas depois a coisa começa a clarear e fica tudo “molezinha”.
Alistando-se
Antes de você sair correndo para se alistar e entrar no barco você precisa tomar algumas medidas de precauções. Lembre-se que você está começando e as dificuldades serão muitas (sem querer desanimar, a verdade é essa).
De cara certifique-se de fazer um backup dos seus dados – nada de muita frescura, simplesmente grave a sua pasta “Meus Documentos” num CD ou DVD, verifique se gravou mais arquivos em outras pastas e que possam ser indispensáveis – grave-os também. Se tiver dúvidas de outra revisada, grave duas cópias isto não é hora pra bancar o machão e deixar o orgulho e o ego subirem a cabeça. Pode ser que mais tarde você descubra que o álbum de família estava salvo numa pasta fora de Minhas imagens e ai já era (na realidade em parte, mas não vou entrar nesta discussão agora).
Em seguida verifique se todos os CDs de instalação do seu sistema Windows estão a mão. Embora uma instalação Linux seja segura, nunca é demais ser precavido.
Em uma queda de energia elétrica durante a instalação você poderá ter seus dados perdidos e precisar recuperá-los novamente.
Feito isso você poderá escolher uma distribuição Linux e instala-la juntamente com o seu Windows (método conhecido por dual-boot).
Em qual embarcação navegar?
No mundo Windows, Só temos uma versão do sistema por época, por exemplo se você tem o Windows XP, sabe que o Vista é mais atualizado e para mudar precisaria atualizar o seu hardware, por este último ser mais novo e exigir mais do sistema, é possível sempre saber que havendo dois Windows um sempre será mais atualizado que o outro.
No Linux não é bem assim. O Linux é mantido por um sem número de pessoas entusiastas e que o fazem por prazer – fica a pergunta:
Será que alguém tem prazer com aquilo é sofrível?
Existem centenas de distribuições Linux disponíveis por ai e cabe a você, e unicamente a você, escolher a sua preferida. Cada pessoa tem a sua opinião sobre uma ou duas distribuições mas dificilmente a sua opinião vai ser coerente com a de uma terceira ou quarta pessoa.
Eu por exemplo uso a distribuição Ubuntu nos meus três computadores, mas no trabalho mantenho servidores com Debian e quando tenho que sugerir uma para um leigo, fico entre a Ubuntu e a Kubuntu. Inclusive escrevi aqui um tutorial para instalação bem-sucedita do Kubuntu.
Certamente que se você perguntar ao seu vizinho ele terá a sua sugestão e boas justificativas para convencê-lo a escolher a distribuição X ou Y.
Creio que não precise comprovar que as boas justificativas dele serão baseadas em suas próprias experiências com o seu próprio hardware e/ou de duas ou mais pessoas próximas a ele e isso porque, obviamente, a minha não é diferente.
Qual distribuição Linux eu devo usar?
Bem, como já deve ter ficado claro esta é uma escolha bastante pessoal, mas se você quer dicas, comece procurando as pessoas a sua volta e que poderão te ajudar. Para quem está começando, com certeza, a melhor distribuição será aquela que você poderá encontrar uma boa quantidade de pessoas para ajudar.
Se você não tem amigos que usem Linux o jeito vai ser arriscar uma e depois outra e mais outra até você se ajustar. Isso não quer dizer que você vá instalar um monte de distribuição Linux de uma só vez.
Você terá que escolher uma, testar por um tempo, se achar que poderia ser melhor então poderá testar outra até se acertar.
Só para verem como isso é comum, a minha experiência com Linux começou por volta de 1998 ou 1999 quando conheci a já inexistente distribuição Red Hat Conectiva Linux, que futuramente viria a se tornar Conectiva Linux. Passados alguns meses estava eu testando o Mandrake que detectava e instalava muito melhor o meu hardware, mas não demorou mais do que umas três versões para que eu voltasse para o agora Conectiva Linux por mais alguns meses (hoje ambas fundiram-se criando a distribuição Mandriva Linux), até que me desse conta de que estas vieram da famosíssima distribuição Red Hat. Lá estava eu mudando de novo e sem nenhum arrependimento em em definitivo.
Desta vez eu parecia ter me acertado e seria usuário para sempre desta excelente distribuição até que em um belo dia de sol experimentei a Debian e fiz juras de amor eterno a ela, já que o seu jeito tão especial de lidar com os pacotes me fascinava 😉
Mas por volta de 2006 eu comecei a ver que algo não estava bom na Debian – não que ela estivesse ruim, velha ou feia – eu é quem estava mudando e queria mais. Foi quando conheci a Ubuntu, que era a “filha mais nova” da Debian.
Atualmente, então, estas são as minhas distros preferidas: Ubuntu nos meus desktops (casa e trabalho) e no meu notebook (na realidade da minha esposa – conto a história depois) e Debian nos meus servidores.
Em fim … e a resposta?
Bem, a resposta direta para a pergunta é difícil e não creio que um bom profissional queira se queimar respondendo-a diretamente – a não ser que esteja vendendo serviços sobre aquela distribuição, o que não é o meu caso. Por conta disso eu deixo que o DistroWatch te responda numa forma de “roleta russa”. Este site lista todas as mais populares distribuições Linux do planeta. Não acredito que ninguém em sã consciencia consiga testar e conhecer todas elas, mas graças a este site você poderá ler e conhecer um pouco sobre cada uma antes de escolher a sua.
A página a qual o link está apontando tem uma relação com as 10 distribuições mais populares no momento em que você o acessar. No momento em que escrevo este texto é o Ubuntu quem está no topo da parada, seguido pelo OpenSuse e pelo Fedora, mas isso não tira o mérito das demais distribuições, já que isso pode ser bastante subjetivo como eu já expliquei. Só deixo aqui uma dica importantíssima:
Não se impressione com as cores, papel de parede e ícones pois, assim como no Windows, isso pode ser mudado e seu sistema ficar muito mais bonito do que está sendo apresentado.
Cheque as escotilhas e as velas
Toda embarcação é formada não só pelo seu casco, mas também por um conjunto de parafernálias e dispositivos que em caso do capitão Linux não saber usar não vão servir de nada, visto que é ele quem autoriza ou não o seu uso.
Parece bobagem para quem já está usando Linux a muito tempo, mas para quem está começando este é uma alerta crucial para que não haja afogamentos. Por exemplo:
Eu levei mais de 3 anos para conseguir digitalizar uma foto no Linux com meu scanner de marca Plustek.
E olhe que, segundo o site do projeto Sane era compatível. (Anote esta dica: Sane é projeto que fornece o caminho para o seu scanner funcionar, então consulte a lista de dispositivos suportados para saber se você terá sucesso com o seu dispositivo).
Por outro lado, com impressoras eu nunca tive problemas, mas conheço muita gente boa que chora só de pensar que precisará reinstalar o sistema e sua impressora. Então anote este link para começar a se dar bem com sua impressora: http://openprinting.org. Aqui você terá uma lista de impressoras suportada pelo Linux.
Se a sua impressora estiver na lista pode dar um sorriso, ela funcionará no Linux sim, com ou sem alguma dificuldade!
Há aqueles que possuem dificuldades com o modem. Modems para linhas discadas, como os do mercado brasileiro, costumam ser um lixo. Mas eu consegui resistir muitos anos com um modem da marca Lucent v.92 (não os modelos Agere) e que sempre (vou repetir: SEMPRE) consegui conectar de primeira em qualquer provedor gratuito e também SEMPRE com uma velocidade e estabilidade bem mais alta do que conseguia no Windows – usando a mesma máquina.
Hoje em dia estou acessando a Internet usando um modem para tecnologia de banda larga 3G da operadora móvel Claro – mas não vou entrar em detalhes sobre isso neste post – veja mais nos outros que já publiquei aqui. O primeiro passo é saber se a sua plaquinha vai colaborar contigo. Um bom começo é o site do projeto Linmodens.
Muita gente boa reclama que o Linux não suporta o modem tal, a impressora tal ou a placa controladora de sei lá o que. Mas se você colocar a cabeça para funcionar verá a culpa não é do Linux, mas sua própria.
Aquele fantástica impressora multi-funcional que assobia e chupa cana ao mesmo tempo e que não custou muito caro?! Quem comprou?!
Foi você quem comprou aquele modem vagabundo que tinha o selo de compatiblidade com o Windows. não foi? porque está se lastimando então?
Eu não entendo muito de carros, mas sei que se eu tiver um carro a gasolina, não vou poder abastecer com diesel; a mesma forma se o carro é da marca Honda, não vou poder colocar peças do Toyota.
Então, porque as pessoas insistem em comprar hardware para Windows e querem jogar a culpa no Linux por não reconhece-lo adequadamente?
Fica a dica então: Antes de procurar preço tenha em mente quais os modelos que são compatíveis com o seu novo sistema. Eu tenho feito isso desde que mudei para o Linux e não me arrependo.
Muitas vezes o fabricante pode não dar suporte ao hardware no sistema Linux, mas com a ajuda da comunidade você o colocará funcionando rapidinho. Mais adiante eu passo uns links para você pesquisar se o seu hardware é compatível ou não com o Linux.
Nem só de sistema operacional vive um marujo
Um outro problema enfrentado pelos novos usuários do são os programas que estão acostumados a usar no Windows e que não existem/funcionam no Linux e é importante ter consciência disso desde o começo.
Você não encontrará o Microsoft Word, Excel, Access, Nero Burn DVD, PowerDVD etc no Linux.
Na maioria das vezes você terá programas que exercem a mesma tarefa e que podem ser idênticos, levemente diferentes ou extremamente diferentes dos que você costumava ter no Windows.
Existem três casos aqui que devem ser considerados, independente da questão sobre similaridade que comentei acima e que não vou abordar visto que até no Windows há dezenas de programas que fazem a mesma coisa e possuem interface extremamente diferentes, por exemplo: Windows Media Player e Winamp.
O caso em questão é quanto a disponibilidade de um dado programa e que deverá ser abordado de quatro formas diferentes, e cuja abordagem vou tentar não ser tendencioso a nenhuma delas.
1: Você precisa se adaptar as novas ferramentas
Microsoft Office versus OpenOffice.org/BrOffice – Muitos que experimentaram o OpenOffice 1.0 falam mal da segunda mais famosa suite office do mundo até hoje, e olhe que já estamos na versão 2.4 e caminhando para a 3.0. O que eu digo para estes indivíduos é: “Você está velho hein!”.
O Windows 3.1 era uma (com o perdão da palavra) “bosta” e nem por isso essa galera desistiu, pelo contrário insistiu no Windows e hoje têm o Vista que consideram a melhor coisa do mundo.
O mesmo ocorreu com o OO.org, na versão 1.0, que eu o compararia ao Ms-Office 4.2 (aquele para o Windows 3.1 e que eu falei mal acima) mas atualmente na versão 2.4 e com a versão 3.0 para sair do forno posso assegurar que você que será muito mais produtivo com este do que com aquele da Microsoft.
Minha convicção em afirmar isso vem da experiência de quem ministrou aulas de Microsoft Office desde o Windows 3.1+Office 4.2 até o Windows XP+Office 2000, por cerca de 8 anos e ainda hoje de vez em quando precisa prestar suporte para um usuário de Windows enrolado.
Convenhamos: “Se Windows fosse fácil alguém se enrolaria em usar este programas tão fáceis?!”
Outro argumento que posso usar a favor do OpenOffice é o meu projeto de fim de curso na graduação que teve mais de 300 páginas, usando centenas de recursos que provavelmente um usuário normal de suite office não os usa no dia-a-dia, mesmo estando disponíveis a anos no Ms-Word. Isso usando o OO.org 1.0 (aquele que falei mal acima).
Só pra terminar o comentário sobre o OpenOffice, a minha amada esposa está terminando de escrever um artigo cientifico, dentre outros, no “ruinzinho” do OpenOffice usando o “pavoroso” Linux.
Quem tem parentes e amigos nas áreas de saúde e direito sabe bem que estas pessoas tratam o computador da mesma maneira que o liquidificador e entendem tanto de programas de computador quanto de foguete espacial.
Fica então a pergunta: Será que OpenOffice é tão ruim assim, ou a galera tem má vontade de aprender o novo? Assim como o OpenOffice há milhares de aplicativos que fazem o mesmo que os seus equivalentes no Windows. Você poderá instalá-los e testar a vontade gratuitamente a maioria deles e optar pelo que preferir.
Eu não vou deixar uma lista destes aplicativos pelo simples fato que para quem está começando a melhor coisa a fazer é usar os aplicativos disponibilizados pela sua distribuição Linux e esquecer que podem ser instalados programas de outra maneira.
Só para que você tenha uma noção de como são muitos apenas no Debian existem mais de 15.000 programas empacotados, e esta é uma distribuição extremamente rígida na escolha do que entrará na sua lista. Então fica a dica:
Use o gerenciador de pacotes da sua distribuição para instalar aplicações novas.
2: É possível usar alguns programas Windows no Linux
Existe um projeto chamado Wine, que tem por missão permitir a execução de aplicativos escritos para ambientes Windows no Linux.
Embora seja um projeto ambicioso e que tem dado certo, nem todas as aplicações são possíveis de se serem emuladas no Linux pelo Wine.
Eu já consegui rodar muitos aplicativos Windows a partir do Wine tal como os jogos Seven Kingdom e F-22 Raptor que eu adoro jogar (pena que não tenho mais tempo); o melhor aplicativo de estudo bíblico que conheço Bible Works e que possui milhares de recursos; Internet Explorer – para quem precisa desenvolver e testar sites isso é importantíssimo entre outros. No site do projeto você poderá ver que é possível rodar muito mais que isso, desde o Bloco de Notas e Campo Minado até o Adobe Photoshop e o Adobe Dreamweaver.
Mas fica sempre a recomendação:
É preferível um programa que roda nativamente. Só use o Wine se não houver alternativa mesmo.
3: É possível usar o Windows de dentro do Linux
Está em moda falar de virtualização hoje em dia. Existem alguns métodos para isso e todos são relativamente complexos de se explicar para um leigo embora sejam bastante simples de se usar, desde que você não tente se perguntar coisas que a princípio não são tão óbvias. 😉
Apesar de haver dezenas de sistemas de virtualização disponíveis gratuitament ou não, eu vou me limitar a citar apenas o VMware Player, VirtualBox e Qemu e que são bons exemplos de softwares de virtualização gratuitos, livres e/ou de código aberto que permitirão rodar o Windows inteiramente de dentro do Linux como se estivessem em uma computador só para ele.
A mágica acontece criando um “falso computador” (conhecido por máquina virtual) dentro do seu computador. Quando você abrir o programa (Virtualbox, por exemplo) a janela que se abrirá funcionará como uma computador real onde você poderá instalar o Windows e suas aplicações favoritas ali.
Esta técnica vem sendo largamente usada em ambientes corporativos para aproveitar ao máximo os escassos e caros recursos que podem ser obtidos em um servidor (computador médio/grande porte). Apesar deste uso a técnica também pode ser usada domesticamente por qualquer entusiasta que tnha curiosidade e um pouco de gosto por tecnologia.
Inclusive posso citar um experiência que tive alguns meses atrás em que uma pessoa me contratou para instalar o Linux no computador que havia acabado de comprar para sua filhinha de 5 anos.
Sinta vergonha se quiser, mas uma criança de cinco anos tinha ganhado um computador novo – de grife e top de linha – de presente e fazia questão de frisar: “- Mãe, eu quero que você instale o pinguinzinho, porque lá na escola a gente só usa ele”.
Eu instalei o Ubuntu Linux no computador para criancinha usar (e diga-se de passagem tinha muito mais habilidade com o Linux do que muito marmanjo que vejo por ai, e para que a mãe pudesse trabalhar de vez em quando nele, eu instalei o Windows em uma máquina virtual acessível pelo Vmware player.
Obvio que há sempre a lista dos prós e uma de contras neste caso. Como por exemplo aquela aplicação especial que não há equivalente no Linux e nem rodou nos testes com Wine certamente rodará com perfeição no Windows que está dentro desta máquina virtual, entretanto você não conseguirá de maneira muito trivial acessar os arquivos dentro dela.
Para fazer a transferência de arquivos da máquina real para a virtual e vice-versa o método mais comum e eficaz será a partir de uma configuração de rede que permita a ambas as máquinas se “enxergarem” como se estivessem em uma rede real. Dependendo do emulador é possível fazer por outros meios, mas este é o mais comum porque sempre funciona e inclusive permitirá que sua máquina virtual possa navegar na Internet.
Outra vantagem da virtualização é que de quebra você poderá criar outras máquinas virtuais para testar outras distribuições Linux sem precisar ficar formatando sua máquina.
Eu gosto muito do Vmware player entretanto ele não permite criar uma máquina virtual, o que o deixará obrigado a pedir a alguém que crie uma máquina virtual vazia para você instalar o Windows. No caso do Virtualbox e do Qemu eles já possuem recursos próprios para esta tarefa então são uma boa pedida. Apesar do sistema rodar um pouco mais lento na máquina virtual isso é melhor do que não rodar.
4: É possível manter o Windows e o Linux em harmonia no mesmo computador
Este é o método recomendado para qualquer aspirante no mundo Linux. O método conhecido por “dual-boot” já é bem consagrado e nada mais é do que ter o Windows e Linux em duas partições distintas no mesmo HD, ou mesmo em Hds diferentes de forma que ao ligar ou reiniciar o PC seja possível escolher entre um dos dois.
A vantagem deste método é que os sistemas não interferirão um no outro e você estará com a máquina rodando 100% naquele sistema operacional, não havendo degradação da performance – o que não ocorria na virtualização citada acima.
A desvantagem fica por conta do fato que se você estiver em um sistema e quiser entrar no outro só para rodar uma aplicação especifica precisará salvar e fechar tudo para reiniciar o computador com o outro sistema. Em todo caso este é o método mais simples, visto que é suportado e realizado logo na instalação da maioria das distribuições Linux.
Outra desvantagem do dual-boot é que numa instalação trivial e sem muitas complicações, você até conseguirá ver os arquivos salvos na partição/disco do Windows a partir do Linux, mas a recíproca não é verdadeira, visto que – lamentavelmente – o sistema da Microsoft não oferece suporte ao sistema de arquivos usado no Linux.
Conselhos ao novo marujo
Dizem que se conselho fosse algo bom haveria empresas faturando com a venda deles e isso não é o que acontece. Mas muitas vezes há pessoas bem intencionadas que dão bons conselhos e eu creio que com base no que já expliquei acima eu consiga juntar alguns bons conselhos e caso não sejam bons você por si só poderá chegar a esta conclusão e simplesmente descartá-lo.
Primeiro conselho – hardware
Antes de mais nada verifique a marca e o modelo de cada um dos seus seguintes dispositivos:
- Impressora
- Modem
- Placa de Vídeo
- Scanner
- Placa de Som
Estes são os dispositivos que costumam fazer feio e afugentam os novos usuários Linux. Embora haja muitos casos de sucesso com todos eles, isso vai variar de um modelo para outro e as vezes até mesmo de uma distribuição Linux para outra. Então já fica um alerta:
Pode ser que você tenha que mudar de distribuição linux para que o seu dispositivo funcione.
Assim como você tinha que fazer quando um dispositivo novo ainda não era suportado pela versão atual do seu Windows.
Uma vez de posse da relação de marcas/modelos dos seus dispositivos, procure nas inúmeras listas de compatibilidade de hardware que existem por ai, para saber se o seu hardware funcionará. Os sites que indiquei antes podem ser o começo de tudo, mas existem outras como a iniciativa: BSDLinuxHardware e a já tradicional lista anual de compatibilidade divulgada pelo Augusto Campos em seu blog Br-Linux, uma referência nacional em notícias sobre o mundo Linux – Anote o link para o site, muita gente boa começou com as dicas dele. Você verá no topo da página deste blog uma lista de outros bons sites onde você poderá encontrar ajuda e informações.
É claro que algumas vezes um dispositivo que não consta na lista poderá funcionar seja integralmente ou com recursos limitados, o que vai depender da versão dos programas que vem na distribuição escolhida e até mesmo do fato de que estas listas são baseadas nas experiências de alguém que podem ter as mesmas limitações técnicas que você. Mas uma coisa é certa, se o hardware estiver lá na lista vocÊ tem 90% de chance de conseguir configurá-lo. Os outros 10% fica por conta da sua boa vontade, curiosidade e vontade de fazer funcionar.
Também é bom lembrar que você deve se preocupar com a marca/modelo, antes do preço de determinado hardware. Não adianta comprar uma impressora cara achando que por isso ela funcionará. As vezes um hardware barato tem tanta chance de funcionar no Linux quanto um mais caro e que faz a mesma coisa.
Segundo conselho – Software
Enumere todo os software que você precisa. Todos mesmos, você poderá concluir que realmente precisa do Internet Explorer porque faz muitos testes com sites novos, ou mesmo porque o maldito do seu home banking não funciona no Firefox que é o navegador padrão da maioria das distribuições Linux.
Sinceramente, eu mudei de banco 3 vezes porque o homebanking dos três primeiros não funcionavam bem no Firefox.
Radicalismo?! Talvez. Entenda como quiser, mas eu tenho direito de escolha. Segundo o código de defesa do consumidor, se determinada empresa não presta o serviço adequado para minhas necessidades eu posso simplesmente a deixar e contratar o serviço de outra que me atenda.
Graças a esta persistência de muitos usuários é que muitas empresas estão tomando vergonha na cara e readaptando seus sites. Faça o mesmo, mas não mude apenas. Diga o motivo da mudança, reclame. Reclamar é um direito seu.
Existem algumas listas que auxiliam a escolher qual software usar quando você está migrando do Windows para o Linux. Mas esteja atento as datas, pois pode ocorrer que um software que era muito bom em 2005 já tenha um concorrente livre que dá de 1000×0 nele.
- Lista simples da gigante das redes, Novel: http://www.novell.com/coolsolutions/feature/11684.html
- Extensa lista da Linux Alternative Project de fazer gosto: http://www.linuxalt.com/
- Outra extensa lista da Linux App Finder que dá gosto de ver: http://www.linuxappfinder.com/alternatives
- Mais uma bem extensa organizada por categorias da Open Source Alternative: http://www.osalt.com/
- Lista do Ubuntu, esta é boa para quem pretende migrar para o Ubuntu/Kubuntu: http://wiki.ubuntu-br.org/ProgramasEquivalentes
Existem outras tão boa quanto estas mas vou me limitar a estas que são mais do que suficientes. Mas tenha em mente que estas listas foram concebidas com base no conhecimento de cada usuário sobre determinadas aplicações, então, o fato de um usuário dizer que a aplicação “A” no Linux é equivalente a aplicação “WinA” no Windows não quer dizer que a aplicação “A” faz exatamente tudo que “WinA” faz. Talvez “A” seja muito melhor que “WinA” mas pode ser que apenas se limite a fazer uma pequena parte do que “WinA” fazia.
Só pra ficar mais claro muita gente boa diz que o substituto para o Adobe Photoshop no Linux é o Gimp. Eu adoro o gimp e o uso sempre que preciso manipular fotos. Ele é um excelente software para manipular imagens, mas sinceramente não consigo concordar com esta afirmação.
Claro que para 90% dos casos o Gimp faz tudo o que o Photoshop faz talvez até melhor e possui até alguns recursos inovadores que demorarão até os usuários do Photoshop conhecerem, mas não dá pra comparar um com o outro.
Dicas finais
Este link apresenta um texto do Jackson Aquino que resume parte do que eu disse e mostra a migração em quatro etapas, além de uma pequena lista de vantagens e desvantagens de uma migração para Linux – http://jalvesaq.googlepages.com/migrar.html
O já citado blog BR-Linux com notícias diárias sobre o mundo do software livre é parada obrigatória – http://br-linux.org/
Alguns anos atrás o BR-Linux tinha um ótimo fórum onde poderiamos discutir e tirar dúvidas sobre Linux, mas questões que não vem ao caso o mantenedor resolveu desativá-lo em favor do fórum de um site parceiro, então não poderia deixar de sugerir diferente. O fórum do UnderLinux é ótimo – http://under-linux.org/forums/
Geralmente cada distribuição Linux possui uma comunidade de usuários e entusiastas que permite-os se comunicar, trocar idéias, experiências e frustrações. Uma vez que você tenha escolhido a sua distro preferida é aconselhável entrar nesta comunidade que poderá ser suportada por um blog, Wiki, sala de IRC, grupo no Yahoo Grupos ou Google Groups etc. Como não tenho como prever qual distro você escolherá e como são muitas vou omitir esta informação, mas se quiser entre no Google e procure pela sua comunidade. Por exemplo se procurar por “comunidade ubuntu brasil” retornará uma lista de sites com estas palavras, da mesma forma “comunidade mandriva brasil” etc.
Há 90% de chance da comunidade procurada ser um dos links nesta primeira página de resultados e 99% de chance de ser o primeiro link da lista.
Se seus conhecimentos de inglês não forem muito bons você pode procurar por comunidades em portugal também, afinal de contas os nosso amigos da terrinha lusitana falam português também. Eles vão te sugerir a pegar o rato e levar até o canto do ecrã para fechar a janela que mostra as informações do disco duro; ao invés de levar o mouse até o canto da tela para fechar a janela que mostra as informações do HD, mas nada que impeça a comunicação. 😉
Desta última dica fica uma outra: Quando não tiver de onde conseguir informações, consulte o Google. Aliás, consulte o Google SEMPRE antes de perguntar em uma lista de discussão ou em um fórum. Geralmente as pessoas o verão como alguém interessado e que realmente quer aprender e o responderam de bom grado sem dar respostas secas como: RTFM e “Procure no Google”.
Ainda sobre listas de discussão e fóruns não seja mala e nem ache que as pessoas estão disponíveis para te agradar. Ninguém é obrigado a te responder. Evite mensagens usando sentenças como “Pelo amor de Deus”, “Socorro”, “Preciso com urgência” e também NUNCA subestime quem estiver por lá. Você pode estar contactando desde um pirralho de 5 anos de idade até um cientista da NASA formado no MIT e que possui profundos conhecimentos sobre o sistema, ao fazer isso você poderá estar dando um tiro no pé e anulando a sua única chance de obter uma boa resposta.
Também é bom ter conhecimento de um pouco de Netiqueta para não cometer gafes.
E para acabar só resta desejar boa sorte aos novos marujos e lembrem-se sempre da bóia (geralmente esse ícone se reflete no sistema de ajuda de várias distribuições Linux).
Mas caro Wel. voce sabe muito de linux, e isso é bom apesar de eu estar apenas engatinhando nessa area. Gostaria de lhe enviar um texto falando sobre a conspiração da microsoft contra o linux, afinal quantos de nós já tivemos acesso a uma versão beta do linux sem autorização dos desenvolvedores como acontece com o windows a cada nova versão…
Aguardo seu contato e Viva o Linux
Prezado Cassio,
Não sou muito fã de publicar textos de outra autoria que não a minha, já que isso sairia da minha intenção com este blog pessoal. Mas faria uma referência ao seu texto sim, caso seja interessante. Sugiro que você crie um blog pra você no WordPress [1], por exemplo, para publicar textos escrito por você e assim, não apenas eu, mas outras pessoas poderão referenciá-lo também.
Você pode criar uma conta gratuita no WordPress para publicar todos os seus textos. É fácil e o que é melhor: grátis. OK?
[1] Site do WordPress para criar blogs de graça. http://pt-br.wordpress.com/