Aprendizado de programação para crianças

Embora não seja pedagogo nem mesmo especialista em qualquer área da ciência humana eu concordo totalmente com a afirmação de Nicola Negroponte:

Computer  programing is a powerful tool for children to ‘learn learning’… Children who engage in programming transfer that kind of learning to other things.

Nicola Negroponte
One Laptop per Child Project, January 2008.

Ou em bom português:

Programação de computadores é uma poderosa ferramenta para crianças ‘aprenderem a aprender’… Crianças que aprendem programação transferem este tipo de aprendizado para outras áreas.

Livro de programação para crianças e outros iniciantes

O projeto OLPC que se iniciou com a ambiciosa expectativa de levar um computador para cada criança ainda não atingiu o seu patamar de maturidade para que isso efetivamente se concretize, mas a verdade é que programar pode sim ser  útil para crianças, da mesma forma que o ensino de xadrex  (pergunte ao um bom enxadrista sobre isso) e até mesmo a matemática.

Devido a este conceito foi lançado em março/2009 um livro entitulado ‘Hello World! Computer Programming for Kids and Other Beginners‘ (Olá Mundo! Programação de computadores para crianças e outros iniciantes) de Warren D. Sande e Carter Sande.

O livro que custa $34,99 (aproximadamente R$65,00) originalmente foi escrito em inglês e ainda não tem tradução para o português. A sua linguagem que pode ser facilmente entendida por crianças de 12 anos de idade em diante sem dificuldades e vem acompanhado de um CD com todo o material necessário para assegurar que o guri ficará entretido exclusivamente à tarefa. Para facilitar ainda mais a linguagem de programação escolhida pelos autores para embassar a obra foi a linguagem Python que notoriamente é uma linguagem bem fácil de ser assimilada.

Saudosismo e um pouco de experiência prática

Por experiência própria, eu afirmo que tanto os autores do livro, quanto o próprio Negroponte estão cobertos de razão. Toda criança já viu e certamente se fascinou com desenhos e filmes na televisão em que os personagens criam robôs, máquinas, naves etc. Não foi diferente comigo e por conta disso comecei a aprender eletrônica com 9 ou 10 anos de idade, graças ao meu pai, meu avô e a meu tio que trabalhavam nesta área. O que me atraia, além da curiosidade, era a capacidade de criar e sentir-se no controle de uma máquina. E não demorou muito para que em pouco tempo eu conhecesse conceitos de radiotransmissão e estivesse brincando de criar ‘coisas radio-controladas’, como carros e barcos, além de radioamadorismo.

Computador pessoal Sinclair TK 90X
Computador pessoal Sinclair TK 90X

Alguns anos depois disso eu conheci uma máquina chamada ‘microcomputador’ em que depois de ligada à televisão da sala eu digitava algumas frases estranhas e a máquina fazia exatamente o que diziam que ela ia fazer com uma velocidade espantosa. Eu gastava mais tempo digitando os programas do que vendo o resultado. Na época o computador era um “poderoso” computador pessoal da linha Sinclair, modelo TK 90X com fantásticos 16Kb (isso mesmo: dezesseis kilobytes) de memória RAM e um fenomenal processador Z80 que rodava a todo vapor na velocidade de 3.58MHz (só para efeito de comparação qualquer computador mediano hoje em dia roda entre 2GHz e 3GHz – cerca 1000x mais rapido)!

Na verdade o computador não era meu, mas de um amigo. Eu costumava ir para casa dele e perdiamos algumas horas digitando linhas e mais linhas de comandos esquisitos para no final aparecer apenas responder alguas pergutnas em que o computador iria resolver um problema simples, ou exibir um desenho na tela (que muitas vezes nem se mexia) e até mesmo alguns joguinhos.

Lembro que o primeiro programa que eu digitei foi escrito em Basic e após todo digitado (acho que umas 30 linhas de comandos) e rodando ele me perguntava um número qualquer e ele ‘adivinhava’ magicamente se o número era par ou impar sem precisar parar para pensar. Simplesmente fantástico assim e sem  em nenhum momento dizer isso para a máquina. Dali pra frente foi paixão a primeira vista por esta atividade e mesmo seguindo em frente com a eletrônica eu ainda, sempre que possível, dava um jeito de encontrar um computador para digitar umas linhas de código.

A qual aprendia mais e mais por conta própria apenas lendo revistas como a Microsistemas que na época vinha recheada de programinhas em Basic para serem digitados.

Por mais bizarro que possa parecer, programação é algo extremamente fácil de se aprender e depois que se aprende você nunca mais esquece. Junte este conceito à cabeça fresca e curiosa de uma criança e pronto, vamos acabar de vez com a audiência do MSN e do Orkut, além de estimular o raciocícnio lógico da moçada, o que será tão útil quando estiverem numa fase mais adulta.

Bons tempos aqueles, mas a fila anda e futuro chega empurrando o presente para o passado e máquinas lendarias como a linha Sinclair não existem mais, em contrapartida temos poderosos computadores em que as crianças usam para …ehhhh… para… sei lá pra que usam, mas não deve ser para algo muito útil para o seu futuro, então por que não estimulá-las a usar uma ferramenta destas para uma diversão sadia e que poderá mudar o seu futuro?

Linguagem de programação para crianças

Com as máquinas atuais é possível fazer proezas maiores do que simplesmente descobrir se um número é par ou impar. Por exemplo, usando ferramentas como o “Scratch” é possível que a criança, sem digitar uma linha de código, consiga obter resultados incríveis. Incríveis não apenas no sentido de qualidade e efeitos, mas no sentido da simplicidade também.

A ferramenta concebida e mantida pelo MIT (aquele “institutozinho” de tecnologia lá de Massachusset, nos EUA) roda em ambientes Windows e Mac OS, possui tradução para diversos idiomas, inclusive o português, e permite a criança programar “encaixando blocos”, como se fosse um lego virtual.

Tela principal do Scratch com um programa sendo criado (veja que os comandos são blocos arrastados da paleta de ferramentas lateral para a área central, onde o programa é construído).

Existem alguns tutoriais em vários idiomas (português inclusive) para facilitar o aprendizado no site oficial e também na seção especifica destinada à esta ferramenta no site do “Sapo.pt”, um dos grandes portais na Internet para o povo de Portugal e que, por estar em português embora com algumas diferenças ortográfica, pode ser lido sem problemas pela meninada.

Para fazer o download da ferramenta que é gratuita basta entrar na seção de download. É solicitado o preenchimento de um formulário simples apenas para fins estatísticos mas que não é obrigatório. Feito o download é só instalar e depois duvido que não vá haver brigas entre os pais e os filhos para ver quem programa melhor.

Conclusão

Existem maneiras inteligentes de se manter a atenção dos filhos longe daquilo que é nocivo na Internet. Algumas escolas até mesmo no Brasil já adotam o Scratch, como ferramenta de estudo. Uma consulta no site Vivência Pedagógica, Portal do Professor (MEC) e até mesmo uma busca no google vai comprovar isso.

Aproveitando então que no mês que vem comemora-se o dia da criança, por que você não instala o Scratch de presente para o seu filho? Ele vai ganhar duas vezes com isso: 1 – pelo aprendizado que ele terá, 2 – pela sua companhia ao lado dele, pois duvído que você não vai querer “brincar de programar” um pouquinho também. Sera diversão garantida!

Algumas referências

Site da editora Manning Publications Co. que distibui o livro Hello World! Computer Programming for Kids and Other Beginners – http://www.manning.com/sande/

Histórico sobre o computador Sinclair TK 90X na Wikipédia – http://pt.wikipedia.org/wiki/TK-90X

Site oficial da ferramenta Scratch – http://scratch.mit.edu/

Site do Scratch no portal Português Sapo.pt – http://kids.sapo.pt/scratch/

Site Vivência Pedagógica – http://www.vivenciapedagogica.com.br/scratchmit

Portal do Professor – MEC – http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=1699

2 comentários em “Aprendizado de programação para crianças”

  1. Olá!!!

    Sou um desses milhões de internautas ‘boiando’ em oceanos de informação tentando me situar nesse mundo de “aplicações” disponibilizadas até pelo Estado sem nenhuma preocupação em popularizar o Código pelo qual é transmitido o ‘conhecimento’.

    Proramação, computação até aqui são assuntos distantes do ‘povo’ frequentador de lan houses e telecentros públicos. Nenhuma linguagem de programação é intencionalmente mostrada ao ‘menino/a’ que corre para um telecentro ou lan house.

    Precisamos mudar isso se temos a pretensão de reduzir sensivelmente a distância que nos separa de sociedades tecnológicamente mais capazes que o Brasil. Ou há aqui entre nós quem duvide ser a escola formal insuficiente para ‘popularizar’ o aprendizado trecnológico ?

  2. Olá!!!

    Sou um desses milhões de internautas ‘boiando’ em oceanos de informação tentando me situar nesse mundo de “aplicações” disponibilizadas até pelo Estado sem nenhuma preocupação em popularizar o Código pelo qual é transmitido o ‘conhecimento’.

    Programação, computação até aqui são assuntos distantes do ‘povo’ frequentador de lan houses e telecentros públicos. Nenhuma linguagem de programação é intencionalmente mostrada ao ‘menino/a’ que corre para um telecentro ou lan house.

    Precisamos mudar isso se temos a pretensão de reduzir sensivelmente a distância que nos separa de sociedades tecnológicamente mais capazes que o Brasil. Ou há aqui entre nós quem duvide ser a escola formal insuficiente para ‘popularizar’ o aprendizado tecnológico ?

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