Resposta ao artigo do Fernando Panissi no site G1

Fernando Panissi no Blog “Tira-dúvidas” da Globo publicou um artigo sobre sua experiência com computadores que vem com Linux pré-instalado. O artigo está muito bom mas surgiram alguns comentários um pouco tendenciosos então eu comentei lá e estou postando aqui o mesmo texto.

Quando adquiri meu primeiro computador, por volta de 1997, era fã do Windows+Office piratão até que resolvi abrir os olhos e ver que aquilo não bom pra ninguém (nem mesmo pra mim). Então adquiri uma licença do sistema operacional OS/2 Warp da IBM (que saudades) e que dava um banho no Windows 95. Foi então que conheci e passei a usar alternadamente o StarOffice em sua versão 5, que supria em parte minhas necessidades, e ainda o Office 4.2 (piratão) para os casos em que o StarOffice não desse conta (eu não sabia usá-lo).

De lá pra cá as coisas mudaram bastante! A IBM nos deixou (usuários do OS/2) órfãos, o sistema Linux começou o tomar forma, se tornar notado pela mídia, a Sun resolveu abrir o código fonte dando luz ao OpenOffice etc. Foi quando eu comecei a entrar no mundo Linux com dual-boot (Windows e Linux na mesma máquina) e meio desconfiado, embora esperançoso para que aquele movimento estranho de software livre desse certo.

Como muitos, comecei apanhando muito com as primeiras versões do Conectiva e Mandrake (99 e 2000) que eram feias, complicadas e incompatíveis até com o mais comum dos drivers de CD mas que foram evoluindo até o patamar que temos hoje. Não que hoje esteja 100% mas já está muito bom (claro que cabe mais melhorias, mas se a Microsoft não atingiu a perfeição, certamente não será o Linux quem atingirá).

Quando digo muito bom não digo no quesito “igual ao Windows”. Usuário windows tem o defeito de achar que um sistema/software só é bom se for igual ao Windows, mas isso além de ser uma inverdade é uma injustiça com dezenas de outros sistemas operacionais que são tão bom quanto ou até melhores (tal como MAC OS, Solaris, BSDs, Linux etc).

Eu lecionava Windows e aplicativos como Ms-Office, Corel Draw, Visual Basic etc mesmo com isso ao chegar em casa estava lá no Linux desbravando aquele novo mundo. Hoje, sou administrador de sistemas Linux em uma instituição pública e trabalho integralmente num desktop Linux (Ubuntu Linux) e tenho sob a minha batuta 9 servidores físicos com Debian linux – fora os outros servidores virtualizados.

Como a maioria dos que seguem esse caminho, sou autodidata e posso assegurar que este não é um caminho em linha reta, pelo contrário ele é cheio de nuances e curvas que as vezes te deixam com cara de bobo – mas isso ocorre na área de TI como um todo, afinal quem nunca se deparou com um problema estranho e disse que era vírus ou ficou uma semana em cima de um trabalho que não andava e depois descobriu que era uma linha de código errada?

O comentário que vou deixar refere-se a minha experiência com este sistema que uso integralmente 100% do dia todos os dias, em casa e no trabalho. Será pura sorte minha se alguém ler isso, mas … se apenas você ler até o final e parar para pensar no que leu então cumpri meu objetivo. Eu não espero convencer ninguém a usar Linux 100%, mas ao menos tentar usar – sem medo e sem preconceitos – e tirar suas conclusões.

Existem basicamente dois paradigmas que fazem novos usuários fugirem do Linux:
1º – O conceito que as pessoas usam pra qualificar o que é bom: Se eu sei usar é bom, senão é muito ruim!
As vezes elas nem testam e nem nunca tentaram, mas só porque o primo do irmão do vizinho da cunhada disse que testou e qualificou como “difícil pacas” só porque não sabia entrar no MSN automaticamente essas pessoas passam a qualificar como ruim também.

2º Vencido o primeiro paradigma que é o de testar e arriscar ter a sua própria primeira impressão. Vem uma outro que é tão comum e grave quanto este primeiro que é o hardware. Fazendo um paralelo com carros -eu não entendo muito de carros e nem sei/gosto de dirigir mas acho que vou conseguir expor meu ponto de vista:

Qual é o seu carro? Se não tiver um tudo bem, imagine que você tenha um Gol 1.8. Sei que a qualidade do material e acabamentos do Toyota Corola são muito melhores do que o do Gol, certo? Descontando a questão do preço, se são melhores por que você não põe as peças do Toyota no seu Gol, afinal de contas elas são melhores! Obvio que você não colocará as peças do Toyota no seu Gol porque apesar de melhores, elas são incompatíveis. Concorda?!
Voltando ao hardware. É o que acontece com o PC dos aspirantes a usuários Linux. Eles compram um PC 100% compatível com Windows (seu Gol 1.8) e querem colocar o Linux (peças do Corola).

Num outro exemplo dentro da área de informática, lembre-se que quem compra um iMac ou qualquer equipamento da Apple que dá de 1000×0 em qualquer PC com Windows ou Linux está sujetio a mesma dificuldade de achar hardware que seja compatível com ele. Mas tem uma diferença ai: Usuários que migram do Windows pra Mac dizem que a dificuldade de achar hardware compatível com ele deve-se ao fato do Mac ser muito bom;
Se aquele mesmo usuário migrar do Windows para o Linux, qualquer dificuldade em instalar uma impressora ele diz que a culpa é do Linux, mas ele nem tentou ler o manual ou procurar no Google se é compatível ou não!

Como já disse, sou usuário Linux desde 99 e de lá pra cá tenho agido como os usuários do Mac ao comprar equipamentos. Antes de fechar o negócio eu verifico a sua compatibilidade com o meu sistema Linux. O que muitas vezes não diz no manual, basta uma busca no Google que facilmente você poderá decidir e o resultado disso é que além de produtos mais baratos e melhores hoje todo o meu hardware é compatível com Linux: Impressora (HP), Scanner(Plustek e HP), Modem discado (motorola e Lucent), modem 3G (Huawei), Celular (Siemens), Monitor LCD (AOC, LG e Phlips), placa de TV (Encore), Pen driver (Kingston), Camera digital (Samsung), mp3-player (não sei a marca) etc e todos do mercado nacional. Fiz questão de dizer as marcas para que ninguém pensasse que são marcas difíceis de se achar no mercado.

A instalação de todos estes periféricos foram praticamente automática requerendo pouca ou nenhuma intervenção minha. Claro que isso varia de um equipamento para outro e o ideal é você procurar por listas de compatibilidade como a do BR-Linux que contém a opinião dos usuários Linux no Brasil com o seu hardware adquirido no mercado nacional, mas também uma simples busca pelo “modelo do seu equipamento+linux” no Google resultará am dados suficientes para você.

Desde que comecei a usar Linux eu decidi usá-lo integralmente em casa e até na época de minha graduação meus trabalhos acadêmicos, minha monografia, apresentações etc foram todos feitos a partir do Openoffice que acompanha as melhores distribuições Linux e além de não sentir falta de nada sempre encontrava um algo mais que incrementava o trabalho e me deixava mais interessado no sistema.

Minha última aquisição foi um notebook. Estavamos precisando de um novo equipamento aqui em casa pois só tinhamos um PC (Com Linux) e então no início do ano minha esposa bateu o martelo: Compraremos um notebook, mas você [referindo-se a mim] terá que instalar o Linux nele!Resultado: Com um sorriso de uma orelha a outra, comprei um notebook de baixo custo (marca “Positivo” com Linux Mandriva) que diga-se de passagem não estava bem instalado e substitui pelo Ubuntu Linux que é mais amigável e que por lida o dia inteiro com ele tenho mais afinidade.

Nerd!? Quem, a minha esposa?! Que nada ela realmente é muito inteligente (tanto que casou-se comigo 😉 ) mas a área de trabalho dela não tem nada a ver com tecnologia, pelo contrário, é uma das áreas em que as pessoas preferem confiar nos papeis e canetas e ao olhar para o computador acham que serão abduzidas ou devoradas. Mas ainda assim ela usa o Linux muito bem e as maiores dificuldades dela são quando está longe de casa e precisa usar o Windows.

Pra concluir só me resta dizer que quem tem medo é aquele tipo de pessoa “maria-vai-com-as-outras” que nunca testou mas acredita na opinião alheia; ou então quem tem preguiça de desbravar o novo.

Então fica a minha dica: Tome coragem, tape o ouvido ao que dizem, baixe um CD do Linux e seja bem-vindo a liberdade.

E por fim: Panissi, parabéns pela matéria e torço para que você tome coragem, instale o Linux em seu computador de trabalho e seja feliz.

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